Geração ‘mentos-com-coca-cola’

Por Leticia Vilela Locateli

Em junho deste ano a insatisfação da classe média brasileira transbordou as redes sociais e foi desfilar nas ruas. Após mais de uma década, diversos grupos sociais se ‘uniram’ por um país melhor. Assim, progressivamente as manifestações espalharam-se pelo país, com pautas cada vez mais diversificadas e até mesmo antagônicas.

Apesar da abrangência que atingiu, o movimento gerou dúvidas em relação à solidez de seu conteúdo. O tímido protesto iniciado pelo MPL caiu nas redes sociais sensibilizando camadas da população até então inertes. Então, a geração ‘mentos-com-coca-cola’ aderiu ao movimento trazendo consigo os slogans ditados pela grande imprensa.

A disseminação viral dos gritos de protesto causou um inchaço na pauta criando um aparente esvaziamento de conteúdo. Os protestos passaram a girar em torno de reivindicações genéricas, como o fim da corrupção, a baixa dos impostos, queda da PEC 37 e até mesmo o Impeachment da Presidente(a?). 

Outro ponto que chama atenção foi o repúdio aos símbolos partidários nos dias subsequentes do movimento, pois, curiosamente os bodes expiatórios escolhidos pelo gigante foram os esquerdistas, que nunca haviam dormido, mas ao contrário, fomentavam diversos movimentos. Inclusive este, do qual agora eram expulsos. A extrema-direita sequestrou a pauta? Ou esta intolerância política era apenas resultado da acriticidade do jovem brasileiro? É realmente possível alguma revolução divorciada de qualquer ideologia? Afinal, em meio a tantas reivindicações incompatíveis entre si, qual é a proposta do movimento?

Em meio às estranhezas e as dúvidas trazidas pelos protestos, a única certeza é a insatisfação generalizada da população causada pela precariedade dos serviços públicos, combinada aos altos impostos e aos inúmeros escândalos de corrupção. Desta forma, apesar do ceticismo em relação aos protestos pela falta de unidade de reivindicação, é necessário reconhecer que estes foram importantes e representam um fenômeno social expressivo que, embora ainda não tenha trazido mudanças efetivas, merece reflexão. 

Manifestação em Maringá no dia 18 de junho