Lembranças de morrer
Quando em meu peito rebentar-se a fibraque o espírito enlaça à dor vivente
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.
E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
Eu deixo a vida como deixo o tédio
Do deserto, o poente caminheiro
Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de sineiro;
...
Álvares de Azevedo
ISMÁLIA
Alphonsus de Guimarães
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
viu outra lua no mar...
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
as asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
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